3 de maio de 2025 — Nova Iorque | Paris | Global
O mundo marca hoje o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, em um momento de retrocessos preocupantes para o jornalismo global. Mais do que uma celebração, a data se impõe como um grito de alerta: a liberdade de imprensa está sob cerco, e com ela, os fundamentos da democracia.
Criado em 1993 pela Assembleia Geral da ONU, o 3 de maio é um chamado à ação para governos, sociedade civil e jornalistas que, muitas vezes, arriscam suas vidas para garantir o direito à informação. Neste ano, o tema escolhido pela UNESCO — “A Imprensa ao Serviço da Democracia: Jornalismo sob Ataque Digital” — destaca os desafios impostos pela era das fake news, da vigilância estatal e das campanhas coordenadas de desinformação.
Segundo o relatório mais recente da Repórteres Sem Fronteiras, mais de 460 jornalistas estão presos atualmente em países como China, Irã, Mianmar, Bielorrússia, Turquia e Rússia. Em pelo menos 35 nações, há leis que criminalizam o trabalho jornalístico, sob pretextos como "segurança nacional" ou "combate ao terrorismo". Em paralelo, a desinformação avança em democracias ocidentais, alimentando teorias conspiratórias, polarização e desconfiança da população em relação à imprensa tradicional.
A jornalista filipina Maria Ressa, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, fez um discurso contundente na sede da ONU: “Estamos testemunhando o colapso da arquitetura da verdade. A imprensa precisa ser protegida, não perseguida. Cada jornalista preso, ameaçado ou morto representa uma fissura em nossa liberdade coletiva.”
Diversas cidades ao redor do mundo — incluindo Paris, Cidade do México, Joanesburgo, Nova Iorque e Seul — organizam hoje atos simbólicos, debates e projeções em espaços públicos. A Europa, embora mais estável institucionalmente, também vê crescer os ataques à liberdade de imprensa por parte de governos populistas na Hungria, Polônia e Itália. Já no Brasil, um relatório da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) contabilizou mais de 300 agressões a jornalistas em 2024, muitas delas praticadas por agentes públicos.
Organizações como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) alertam para o “efeito-sombra” que silencia repórteres e faz com que veículos independentes fechem suas portas por falta de financiamento ou medo de represálias. O avanço da inteligência artificial também levanta novas preocupações sobre manipulação de conteúdo e perda de credibilidade do jornalismo tradicional.
“O jornalismo nunca foi tão necessário — e tão ameaçado”, resume Audrey Azoulay, diretora da UNESCO. “Proteger a liberdade de imprensa não é apenas proteger jornalistas, é proteger o futuro da democracia.”